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Confissões

55 metros quadrados…

Posted by Edgar on

Me dei conta, esses dias, que faz um ano que estou neste apartamento. Quando resolvi comprá-lo, minha principal preocupação era se eu me habituaria à vida em 55 metros quadrados! Sem quintal! Pois bem, o fato é que o ambiente compacto me agradou. Sou uma criatura acostumada a me deixar espalhado por ai, quanto menos espaço, menos bagunça! Mentira, a bagunça não tem limites… mas isso é outra história.

Eu já buscava uma forma mais minimalista (mais?) de viver. A limitação espacial contribuiu para o desapego de algumas quinquilharias. Os móveis planejados ajudam, otimizam o uso do espaço e, no fim das contas, o cubículo ficou funcional e aconchegante. Já tive uma casa de 200 metros quadrados, dois andares, garagem para 5 carros, quintal gramado e blá, blá blá… outros tempos. Não sinto falta. Já desenvolvi uma relação de afetuosidade com este cantinho.

Viver nos 55 metros quadrados tem sido divertido, já a vida em condomínio, essa sim me levou a outro nível de compreensão da humanidade…

Percebi que os donos de cães, por mais biodegradáveis que sejam as fezes dos seus entes queridos, não acham desagradável ver um cocozinho definhando até se cumprir a passagem do pó vieste ao pó voltarás… Ainda que se aponte o fato nos grupos das redes sociais, existe uma cumplicidade estranha. Ainda que sejam poucos os moradores que deixam ao deus dará os restos fecais de seus pimpolhos caninos, aqueles que não o fazem, suavizam o ato, pois, ao meu ver, vá que o seu totó deixe para trás aquele cocozinho justo no dia que o dono esqueceu a sacolinha… melhor é ver as crianças do condomínio, sobretudo as pequenas, vez ou outra, pegando o cocozinho seco achando que é uma pedrinha, um galhinho, ou sei lá o quê…

Por falar em crianças, escolhi o mesmo condomínio que todos os casais recém casados e com seus rebentos recém paridos escolheram… a depender do horário, há uma sinfonia de choros. Não me incomoda, falo sério. 20 anos morando na rua da feira, na esquina onde as cândinhas do bairro se punham a debater os detalhes das vidas alheias, criaram em mim uma tolerância ao burburinho. Às vezes, a noite, acordo com o som do choro de um bebê com dor de dente, barriga ou com pura birra. Tranquilo, aproveito para ver o Tinder, tentar dar uns likes, e volto a dormir…

Por falar em likes, fora os casais recém casados com seus rebentos recém paridos, há muitos estudantes. Afinal, meu condomínio fica a 500m de uma universidade pública. À época da compra, pensei, isso será um mar de bacanais, festas, orgias, gente pelada na piscina. Ledo engano. Acho que esses estudantes são todos um bando de CDFs… bom, quase todos, vez ou outra, no transcurso do estacionamento ao meu bloco, em um bloco em específico, a brisa que emana pelo passeio denuncia os rituais ao deus Jah… mas nada de universitárias nuas na piscina… talvez os filmes dos anos 80 tenham criado um campo de distorção da realidade neste jurássico que vos escreve…

E por falar em piscina. Nunca a usei. Esta lá. No único fim de semana que eu me aventurei a dar uma sapeada na piscina, descobri que eu e mais 108 pessoas, 107 não moradoras, tiveram a mesma ideia. Vale destacar que as dimensões da piscina comportam, talvez, 25 pessoas. Não é nem a alta concetração de urina na água que me desmotiva. Sou criatura aquática, adoro dar minhas braçadas, mergulhos e tals… mas, na companhia de 1 morador e seus 107 convidados, há o grande risco de acertar a careca do tio José numa braçada, ou de vir, num mergulho, de encontro ao nariz, agora ensanguentado, do netinho de vovó Valentina, ou, ainda, no limite do perigo, de ser encoxado por dona Marta, aquela dona Marta das tirinhas do Glauco, no diminuto espaço entre a escadinha e a quina da piscina…

Acho que deu por hoje!

E.