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Sobre o que eu leio e sobre o que eu não quero falar…

Posted by Edgar on

Eu ainda não sei o título desta postagem. De certo que, agora, no seu presente, meu passado, você está lendo ele, há um título. No entanto, agora, no meu presente, seu futuro, o título ainda é uma incógnita. A verdade é que eu não sei bem sobre o que eu vou escrever. Os últimos dias nas redes sociais foram estranhos, um clima de agitação, comoção, agressão, incompreensão… vivemos dias estranhos. Mas, e eu já disse isso antes, em outros tempos, em outros blogs, com outras palavras… todos os tempos são estranhos, apenas na história, escrutinadora do que já houve, os tempos ganham clareza — quando ganham.

Quer saber, não vou falar sobre essas coisas… da morte de ilustres celebridades desconhecidas à horda dos defensores da família tradicional, eu, malandrão, poderia fazer como aquele garoto do ENEM e escrever aqui uma receita de miojo, com queijo, mioqueijo, uma das minhas melhores produções culinárias. Mas não vou falar, menos ainda dar a receita, do meu mioqueijo.

Acabei de ler um livro escrito pelo Gene Simmons, baixista, vocalista e dono do KISS. EU, S.A. Um livro sobre como ser bem sucedidos nos negócios. Ok, você se perguntou por que diabos eu teria comprado um livro desses? Simples, eu sou fã do KISS. Ponto. O livro é interessante pela história de vida de um garoto israelense, pobre, que vendia frutas no ponto de ônibus, que décadas depois virou Gene Simmons. Virou não, se fez. No mais, o livro é bom. Vale a leitura. É do Gene! O cara do KISS. Sim, eu sou fã e fã é assim. Ponto final.

Ainda estou lendo o livro do Feyerabend. Matando o tempo é uma autobiografia. Veja que interessante, também de um menino pobre, austríaco, que não vendia frutas no ponto de ônibus, que décadas depois se fez um dos maiores filósofos da ciência. Sou fã. Já era fã. Ainda não terminei a leitura, eu já disse. Estou cada vez mais fã do Paul Feyerabend. Ponto.

Ser fã de alguém é legal. Pessoas que nos inspiram. Pessoas que nos impulsionam. Parâmetros. Paradigmas (Hello, Kuhn!). Eu sou fã de muita gente. Gente que eu conheço, gente que eu jamais vou conhecer. Pouco importa. Sou fã do Gene e do Feyerabend. Dificilmente vou conhecer o Gene em algum lugar, menos ainda o Feyerabend, que já morreu. Sou fã do Cortella, de quem ganhei um livro autografado sem o conhecer pessoalmente, longa história, fica pra outro dia. Sou fã do Paulão do Velhas Virgens, mas esse eu conheci pessoalmente, troquei ideias pelo twitter e email, tirei foto junto. Coisa de fã. Sou fã de grandes mestres, professores que me inspiraram e hoje leciono com eles, somos colegas de trabalho. Ser fã é legal. Ser fã é saudável. O problema — e sempre há um problema — é ser fanático. Ai, mermão, ferrou. Mas eu não quero falar disso, pois vou cair naquilo que eu disse que não ia falar alguns parágrafos acima.

Já sei o título!! E você já sabia dele desde o início. Estranho, não?

Até o próximo.

Filosofadas

Vale tudo, mas hoje não. Não na escola…

Posted by Edgar on

Paul Feyerabend foi um filósofo austríaco que se dedicou, em grande parte, à filosofia da ciência. Minha saudosa professora do mestrado, Maria Lúcia, me recomendou a leitura de sua biografia, coisa que eu, relapso, ainda não fiz. Maria Lúcia nos deixou, foi semear campos com seus heleantos em outras dimensões, e eu sinto que mesmo que eu venha a ler a biografia de Feyerabend, e eu vou, ela não terá o mesmo brilho que teria se eu pudesse discutí-la com minha professora. Mas não era sobre isso que eu ia falar.

Paul Feyerabend disse: ANYTHING GOES! Que na tradução mais comumente utilizada significa: vale tudo. Ele falava do método científico. Método, o meta ódos, o caminho através do qual, em grego. Método é o caminho que seguimos para realizar algo. Descartes, igualmente filósofo, porém francês e 328 anos mais velho que Feyerabend, também dedicou parte de seu trabalho filosófico à ciência. Descarte escreveu uma obra chamada O Discurso do Método, no qual descreve como se deve bem conduzir a razão na busca da verdade. Feyerabend, sem delongas, manda o método às quicas. Não, sejamos justos, ele não manda “o” método para as pontes que partem, mas a necessidade rígida de “um” método. Em suma, tudo vale. Crie o seu método, descarte Descartes e faça do seu jeito. Do it yourself. DIY. Mas não é sobre isso que eu quero falar.

Causa-me uma certa angústia quando eu ouço, em alto e bom som, na sala dos professores, uma criatura dizer que reprovou um trabalho por causa de um desvio de 0,5cm de erro no tamanho da margem da paginação do mesmo. Uma afronta à ABNT e suas sacrossantas normas. São nesses momentos em que a forma toma o lugar do conteúdo que eu respiro fundo, me levanto, procuro uma sala vazia e descarto-me. Fico pensando no aluno que foi colocado à margem por causa da margem. Eu entendo a necessidade de formalidades, elas são necessárias. Será que Descartes seguiu as normas da ABNT de sua época? Não sei. Creio que não. Reza a lenda que Descartes escrevia em latim quando queria agradar o clero, a ABNT da época. Mas quando queria ser mais livre, escrevia em francês. Por isso temos um plano cartesiano raramente reconhecido como obra de Descartes. Descartes em francês, Cartesius em latim. Chega de Descartes.

Paul Feyerabend. Levei uns bons anos para aprender a escrever seu nome direito. Curiosamente, assimilei a grafia de Nietzsche mais facilmente que Feyerabend. Certamente pronuncio errado. Anything goes! Pronuncio do jeito que eu quiser. Vale tudo. Deveria valer. Produzir conhecimento deveria ser um ato criativo, não normativo. A universidade, assim como a escola em todos os seus níveis, disciplinam a criatividade. De Paulo Freie a Ken Robinson, muita gente fala sobre isso. Estimular a criatividade. E, convenhamos, deixar as regras de lado, muitas vezes, é o elemento criativo.

“Insanidade é continuar fazendo sempre a mesma coisa e esperar resultados diferentes.”

Einstein é o autor da frase acima. É o que dizem. Se não for, dane-se. Ela vale por si só, não precisa do aval de Einstein. É óbvia. E, apesar da obviedade, ela é obliterada nas práticas docentes Brasil afora… descartada, segue-se fazendo-se do mesmo jeito, segundo o manual, dentro da caixa… deixando à margem os que não ABNTizam a margem. Marginais…

Desculpe, Paul. :/